quinta-feira, 30 de março de 2017

FUTEBOL: HISTÓRIA E ARTE

Momento eliminatórias...


Aproveitando o momento das eliminatórias da Copa, quando a seleção brasileira está exibindo sua melhor forma e nós comemoramos a classificação para a Copa da Rússia, vamos a um dedo de prosa sobre futebol e arte ou futebol/arte... ah, já nem sei como dissecar estas paixões, porém quero contar uma 'história da história de um tempo que eu quase vi'. Não presenciei, de fato, mas convivi com o sujeito anônimo, autor de uma obra digna da imortalidade, tanto quanto a seleção de 70.

Walter Vandervolth é o nome dele. Sua biografia não caberia em uma postagem simples do nosso pequeno Núcleo, por isto, atenho-me ao fragmento que me coube:

Surge um poema


Aconteceu em 1970 – Brasil tricampeão mundial de futebol.

Sobre a magia do momento, a grandeza dos feitos do Canarinho muitos já falaram. Porém as histórias paralelas, vividas nos cantos mais remotos do país; sobre os radinhos de pilha de ondas curtas… sobre os apaixonados por futebol dos rincões deste Brasilzão; sobre aqueles que – sim, conheciam cada um dos meninos do futebol como se fossem os maiores amigos de infância; sobre estes, não há registros.

Por seu radinho de pilhas, Walter ouviu sobre um concurso literário promovido pela emissora (?) (Ora, não sei qual era a emissora) – Sim, deveria me informar, mas não agora. Agora quero apenas contar sobre o poema de Walter Vandervolth.

Walter se inscreveu… de longe. E escreveu… produziu com toda sua arte. E, tal como a Seleção Brasileira de Futebol, classificou - 1º lugar.

O prêmio


Uma pequena quantia em dinheiro, nem foi suficiente para tratar uma tuberculose.

Quanto ao poema, vale muito a pena publicar. Vale muito a pena ler…

O Caneco é Nosso

(Walter Vandervolth Rodrigues)

Dotô, eu sô du sertão,


Mas se vancê prestá atenção

Vai sabê que eu tomém sô

Um brasilero, de fato,

Que moro memo no mato,

Mas tomém sô sabedô

Da mais famosa conquista

Qui us nosso futibolista

Nu istrangero realizo.



'Seu' moço, eu nunca istudei,

Na verdade eu nem sei

O que é o tar de purtuguêis,

Mais na língua du sertão,

Daquilo que eu acho bão,

Eu falo pur déiz ingrêis!



Eu moro aqui nu sertão,

Num tenho televisão,

Mais tenho um véio radinho.

Foi pur ele que iscuitei,

E é pur isso qui eu sei

O qui fizero us Canarinho.



Us Canarinho qui eu falo

É a silição de “Zé Galo”

Qui foi lá prus istrangero.

Pur lá ficô muitos dia

Mais quando veio troxe aligria

Pá noventa milhão de brasilero!


Pá falá memo a verdade,

De otos fato da cidade

Eu nem tomo sastifação.

Mais quando falava na bola

Largava inté da viola

Pá prestá mais atenção.



Aqui nesse meu ranchinho

Eu ligava o meu radinho,

Mais véio que pé de serra,

E sentado perto do fogo,

Iscuitava tudin o jogo

Do meu Brasir c'otras terra.



Pá modi trazê o caneco

Joguemo cuns tar de tcheco,

Nem dero pá cumeçá:

Fizero um gor primêro

Mais logo os nosso brasilêro

Já botaro pá quebrá.



Ficô só de quato a um.

- Era apenas o jijum

qui nóis quiria tirá!



Dispois veio a Ingraterra,

Que inventô o futibor.

Lutaro, mas num vencêro.

E agora vô sê sincero:

- Pur respeito aos inventor

Só fizemo um a zero.



Veio a Rumênia dispois,

Ganhemo de treis a dois

Sem sê preciso isforçá.

E assim us Canarinho

Ganharo o lugarzinho

Nas oitava de finar.



Veio, intão, us piruano,

Tomém entraro prus cano:

Ganhemo de quato a dois!

- Na hora eu fiquei cum dó

do brasilêro, treinadô,

Porém cumecei pensá:

“Quem mandô ele í pra lá

Pá contra nóis vim jogá??”



Chegô a vêis dus uruguaio,

- Povo bruto, papagaio!

Naquele dia eu sinti

O maió medo da vida

Puis, diz que aquela gente atrivida

Viero uma vêis aqui,

Quebraro o boné na testa

E acabaro cum a festa

Do meu quirido Brasir



Mais dessa vêis foi furado

O papo desses marvado!

Vinguemo, sim, puis viu só?!
Ganhemo de treis a um

E num fizemo mais um

Purque fiquemo cum dó.



Pur fim chegava a Itália

Dizeno que pra batalha

tinha sangue e muita raça.

Caíro inté na bobage

De comprá uma passage

Pá modi levá a taça.



Mais us onze de “Zé Galo”

Pisaro tomém nus calo

Dus parcêro de Mazzola.

E nu apito derradêro

Mostremo pru mundo intêro

Que somo dono da bola!



'Seu' moço, eu sô um cabôco

Que sei memo muito poco

De otas coisa da cidade.

Mais do nosso futibor

Sei quase tudo de cor.

Tudo qui eu falo é verdade.



Us garoto de “Zé Galo”…

Vancê qué vê cumo eu falo

O nome de todos ele?

- Félix jogano nu gor,

Mostrô seu grande valor

Êh golêro bão, aquele!!!



O nosso Carlos Arberto,

Eu já vi garoto isperto

Mais iguar aquele, inda não.

Lá no meio tava o Brito,

Sartano qui nem cabrito

Defendeno a posição.



Piazza e Everardo,

O grande Gerso,Crodoardo,

Ô garoto sensação!

Mostraro pru mundo intêro

O valor do brasilêro

Que tem amor na nação!



O Jairzinho, -Êh, criolo!!!

Fazia tamanho rolo

Quando a redonda pegava,

E naquele mexe e vira

Eu pensava qui era inté mintira

O qui o meu radinho falava!



O minerinho Tustão,

Eu acho qui era um milhão

Qui ele divia chamá.

Puis fazê o que ele fazia,

Na raça i na valintia

Eu nem posso aquerditá.



I o criolo Pelé?!

Na verdade aquele é

U maiò du mundo intêro!

Quando gritava: - “É Pelé

Qui tá ca bola no pé”,

Eu já ficava banzêro.



Eu já ficava pensano

Qui u pirigo tava rondano

U gorzin dus estrangêro.



Quando ele arrisurvia,

A partida decidia

Em pôco mais de um sigundo.

Jogá iguar aquele homi,

Só se fô um lubisome

Qui vinhé de oto mundo.



O nosso bão Rivilino,

Eu acho qui aquele minino…

Pode sê qui eu mi ingano…

Mais, 'seu' moço, eu discunfio

Qui aquele garoto é fio

Do nosso sertão goiano.



O cabra tinha tanta garra,

Ganhava nu peito e na marra,

Mais tinha qui saí ganhano.



Us reserva qui levaro

Arguns deles tomém mostraro

Seu valor na silição.

Us otos que num jogaro

Foi purque num pricisaro

Mais era tudo muito bão!



'Seu' moço, eu tô sastifeito,

Puis tomém tenho o direito

Di sinti essa aligria.

Puis nessa ocasião

Nosso Brasir é cidade

misturada cum sertão

É tudo uma só famia!



Inté o nosso prisidente

Tava tomém lá presente.

- Viu só, que coisa importante?

Nosso Brasir interinho

Era um só Canarinho

Transformado num gigante!



I agora que o Caneco é nosso,

'Seu' moço, eu inté posso

Agarantí desde já

Qui si havê oto torneio

Meu Brasir tá lá no meio

E vai botá pá quebrá.



A nossa raça valente

Vai mostrá di novamente

Qui o brasilêro num faz feio.

Qui nossa goela num seca,

E qui nóis trais a caneca,

Purque o Caneco já veio.



'Seu' moço, eu agora vô pará.

Já tô roco de falá,

Mais antes quero dá dois grito:

Daqui di onde me vejo,

In nome dus sertanejo

Du meu Brasir infinito…



É o grito qui ressoa

Pur noventa milhão de pessoa

Unida num só coração.

É dois viva bem vivido:

- Viva o meu Brasir quirido!

- Viva a nossa silição!

 

6 comentários:

  1. Querido primo, José Augustinho,
    Soube que você leu e comentou esta postagem do Núcleo do Sujeito, mas por alguma razão relacionada a configurações seu comentário não apareceu. Porém, de qualquer forma eu agradeço pela visita, pelo incentivo...
    Sei que você tem histórias incríveis vividas ao lado desses grandes artistas anônimos que foram os "irmãos Victor" e um fragmento tão pequeno como este que foi publicado aqui mexe com a nossa vontade de revirar o baú, não é?
    Obrigada por ler e comentar.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Respostas
    1. Oiii...
      Sim, um poema muitíssimo bem feito. Orgulho desses nossos tios, né?

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